Os anos que já passaram não me deixam lembrar porquê, nem tão pouco por quem, a rádio passou a fazer parte da minha vida.
A praxe aconteceu na Rádio Escala, uma das ditas piratas que não passou disso mesmo. Foi nessa estação emissora, com estúdios ao cimo da Rua do Comércio, em Viseu, que o "bichinho" da rádio veio para nunca mais fugir. "Onda Mágica" foi o primeiro programa de autor que, em dupla com a prima Helena Correia, realizava e apresentava ao fim da tarde de sábado. Um programa, como tantos outros, mas era o primeiro. A música da época era dona e senhora do programa, que na 2ª hora, num total de duas, era, por "imposição" da prima, exclusivamente dedicada à música francesa. Lembro-me, como se fosse hoje, que o programa até teve direito a cartaz nas instalações da rádio. Um luxo para quem estava a viver um sonho!
Ou porque o dinheiro ou os projetos falharam, a Escala, a primeira que me deixou ligar pela primeira vez o microfone, não conseguiu dar continuidade às emissões ainda antes do Estado obrigar à legalização.
Fiquei com um vazio de emoções, fiquei sem a minha rádio, fiquei órfão do meu "bichinho".
Mas se a Rádio Escala não conseguiu chegar à adolescência, outras seguiram em frente... legalizadas.
Eu que teimava em manter o sonho da rádio na minha vida, não desisti de encontrar outra frequência. Aconteceu na Noar, também em Viseu, onde a magia da rádio podia continuar. Foi nesta rádio, recentemente enterrada pelos euros de uma lei da rádio feita à imagem dos barões da comunicação social, que aprendi a escutar, a olhar, a apreender, foi nesta rádio que cresceu mais ainda o "bichinho", aquele que também, por culpa própria, me afastou dos livros de economia da universidade, mas que me deu a oportunidade de conhecer gente magnífica, gente para uma vida, gente que mantinha o sonho da rádio, agora, muitas delas, apenas no álbum de recordações.
Entre a Rádio Noar "pirata" e a legalizada aconteceu ainda a Rádio "Expresso Fm", em Canas de Senhorim, num projeto que assumi como o primeiro como profissional a tempo inteiro, mas que rapidamente se ficou por isso mesmo. Foram nove meses com uma equipa de profissionais, na sua maioria, já conhecidos de outras andanças radiofónicas, com condições de trabalho magníficas, com estúdios que faziam inveja a algumas rádios de âmbito nacional, mas com o tempo contado. O investimento cheio de ambições foi demasiadamente arriscado.
A ExpressoFm ficou para trás, assim como a ambição da rádio como profissão ficou definitivamente esquecida. Cheguei à conclusão, válida ainda hoje, que grande parte dos que administravam as rádios locais estavam a servir-se da própria rádio para auto promoção e que muito poucos sabiam muito pouco sobre o assunto.
De regresso à minha rádio de sempre - Noar - na época pós legalização, tive a sorte e a honra de poder partilhar e assimilar o ensinamento de uma maneira diferente de fazer rádio com uma equipa comandada por António Figueiredo, diretor da Noar até ao seu recente funeral. Muitos outros lhes fico grato para sempre pela oportunidade que me deram em poder ter partilhado a rádio com eles.
Foi neste grupo de radialistas, do qual também fiz parte, que tive a noção que isto das rádios locais serem tão profissionais como as de âmbito nacional era uma realidade. O espírito de grupo e a carolice continuava a ser fundamental num projeto cheio de adrenalina, mas de muito profissionalismo.
Na rádio fiz um pouco de tudo, um pouco do que caracteriza a carolice das próprias rádios locais. Desde a realização e apresentação de programas, coordenador, realizador e apresentação de programas desportivos, uma ou outra passagem pela sonoplastia, gestão de playlist, vendedor de publicidade, sei lá, toda a rádio me fazia bem, tudo o que significava rádio para mim era bom.
Só uma curiosidade que dá que pensar... As rádios por onde passei já todas elas fazem parte da própria história da rádio no distrito de Viseu. A força do dinheiro, ou tão somente a incompetência dos Homens, têm ditado um fim triste das rádios locais.
Tenho saudades da rádio, mas também tenho revolta de quem mal trata a rádio, um "bichinho" fácil de tratar quando se quer bem à rádio.
Até breve... rádio!!!
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